Antes do Sol virar Moinhos

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ela sumiu como
todas as coisas boas que
surgem, assim,
de leve,
e a brisa teima
em querer deixar

mas da leveza que
a vida breve faz
rumo, o vento que
sopra nos cabelos faz
o momento passar

seguindo entre moinhos
nós vamos, buscando um pouquinho
do mundo para no bolso levar

e o prumo faz alegoria
deixando tecer a tarde
fazendo moer o dia e
trazendo paz e saudade
revelando o que dói em nós

. Ícaro Uther

Da Cantiga

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permita-se sorrir nos verbos
beijar os lábios
cantar eternos
enamorar-se
tornar-se verso
sentir a brisa
abraçar tetos
findar marasmos
ou comer quieto
amar profundo
mergulhar reto
gritar ao mundo
sem desespero
andar sozinho
sentir o cheiro
e quando acalmar
a ciranda cansa
tombarei contigo
minha esperança

. Ícaro Uther

Ellipsism

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Desde que kairosclerosis surgiu na tela eu fiquei jouska que só e percebi o quão difícil deve ser criar uma nova palavra. Aquela sensação que sobe o âmago e embebeda a língua já tem nome? Deve ter, né!?

Eu que deveria tatuar na carne lethobenthos e inventar uma palavra para descrever o quão maravilhoso era a cena de te ver sorrir com o canto da boca, enquanto pressionava levemente os olhos e abaixava a cabeça em direção ao meu peito.

Liberosis, enfim. Ânsias e noites sem fim. Kairosclerosis é até simples, eu sei: é o momento em que você percebe que está feliz – e tenta conscientemente aproveitar essa sensação – o que obriga seu intelecto a identificar e colocar a sensação em um contexto, onde a felicidade lentamente se dissolve até se tornar pouco mais do que um retrogosto. Mas retrogosto não desce. Que palavrão.

. Ícaro Uther

Circo em Branco e Preto

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o palhaço está triste, ele disse
ele disse que o palhaço, mesmo triste,
põe a máscara e rouba a cena, ele disse

eu disse que o palhaço triste
com o nariz em riste, pintando vermelho
diante do espelho, deixa dispersar

se disse, vendo deste lado, triste
do palhaço triste ser palhaço
e ter que atuar

eu disse que o sorriso falha
e o palhaço tarda, pois,
atrás da cortina existe outro espetáculo

. Ícaro Uther

Cratera Vazia ou Como as pessoas se perdem no meio da vida

Aquele asteroide que prometera nos dizimar finalmente estava a caminho. Te vi – bem distante, até – segurando uma mão que não era a minha e derramando uma lágrima que não era de açúcar. Meio fora de tom?

O certo é que não sabíamos direito o que fazer. Os desesperados já tinham perdido aquela adrenalina corriqueira e a reza tornara-se baixinha. Quase um sussurro, aliás. Meio sem fé, sabe?

Meu mundo estava em ruínas desde o dia que você me olhou com aquele sorriso de canto de boca e soltou um talvez. Portanto, o que aconteceria ou deixaria de acontecer por causa da distância que tomamos um do outro não importava mais. Era sem sal. Quase um sussurro, aliás. Era um pedido meio reza, sabe? Aquilo que eu pedia nas noites anteriores – que era para ter você aqui – não poderia mais acontecer por causa da maldita pedra que estava caindo do céu. Fuck you, NASA.

E já era tempo mesmo de acabar com tudo, você sabe. Perdeu a graça e a cor. Perdemos o sorriso e o fim da piada – a mesma que eu contava para você antes de dormirmos – e os deuses já tinham nos abandonado. Você já tinha me abandonado. Posso fazer essa analogia porque te considero uma deusa, lembre-se.

Enquanto você está parada olhando para o céu, sentindo a terra tremer e cantarolando uma oração, eu estou aqui te observando de longe e lamentando porque não poderei te reconquistar. Não poderei mais quebrar tua solidão. Não poderei sequer me desculpar pelo texto que escrevi narrando toda essa situação patética.

Ele se aproxima cada vez mais. Podemos sentir. Vê? É o fim. Só isso. Morreremos sem sermos heróis e sem nosso nome gravado na história. Ainda bem! Já que a partir de agora a história não existirá mais. Já que a partir de agora não existiremos mais.

. Ícaro Uther

Uma carta para a minha ex-sempre-namorada

Hoje, sentado na varanda da minha casa me lembrei de uma ex namorada minha. Ou de todas. Pensativo, cultivei em mim todas as saudades que elas ainda me cedem e resolvi sorrir com isso. Como sempre faço quando lembro de como é gostar de alguém.

Hoje talvez exista outro cara dividindo a cama contigo, contando as mesmas piadas que eu te contava e mordendo o lóbulo da sua orelha – ainda se morde lóbulos de orelha? Na verdade, eu sei que existe, mas só quis criar uma hipótese para parecer mais descolado. De qualquer forma, só espero que ele saiba o quão você gosta de café, e assim, apreciar o charme que é você segurando a xícara com as duas mãos como se estivesse protegendo a Rainha da Inglaterra. Espero também que ele tenha noção de como você não gosta quando te mordem muito forte. E, claro, que ele saiba como você gosta de fazer sexo em lugares inusitados. Quer dizer, acho que essa parte ele nem precisa saber.

Talvez, se hoje eu te conhecesse de novo, ficaria contigo mesmo se você fumasse dois maços de Derby. Por dia. Não porque eras linda e me chupava com aquele olhar de “te devoro”, mas porque depois de viver um pouco enalteci as qualidades que você tinha. Coisas da vida. Que, como sabes, não me arrependo. Eu tinha que viver, viajar e me despertar à vida. Você sabe que era o melhor pra mim e, esse respeito que você teve pelo meu momento é, com certeza, um dos meus maiores motivos de orgulho de ter sido teu namorado.

Por mais que eu não tenha pintado a bunda de vermelho e declamado nosso amor em rede nacional, saiba que, no auge das minhas poucas palavras você pintou de mão colada comigo um pouco da minha história. Espero que lembres de mim como lembro de ti, dos detalhes, das viagens e, claro, das roupas e sapatos que eu tanto reclamava. Lembra como eu era pentelho? Eu mudei um pouco, mas admito, continuo achando pés algo de seres de outro planeta. E sim, também continuo achando que uma minissaia perde seu charme quando o intuito é convencer alguém, somente com aquilo, que ali existe um mulherão.

E, acredite se quiser, ainda guardo todas as nossas fotos. Não por algum motivo especial, ou por devaneio louco, mas porque acho gostoso lembrar das nossas histórias e pontuá-las como fases necessárias em uma vida de momentos tão felizes. Espero que guardes também. Mas, se não o fizer, pelo menos não as jogue fora, revelei todas com tanto carinho…

Então, hoje no auge do meu pouco afeto, te digo: nunca vou te esquecer. Até porque não tenho problema de memória. Você me ensinou tanta coisa, a ser um homem mais sorridente e feliz por curtir os pequenos prazeres da vida. Queria ter curtido mais você, confesso, ter lhe dado mais atenção e me preocupado menos com o trabalho. Mas talvez, esse texto seja um pouco do que eu tanto quis pra mim. Espero que estejas com orgulho de mim.

Saiba que meu beijo continua doce, meu sorriso espraiado e meu puxão de cabelo com a mesma firmeza de sempre – dizem. E como sei que você gostaria de saber: sim, ainda durmo rente a parede e ocupo metade da cama. Ainda gosto do frio e ligo o ar no mais gelado só para camuflar-me por baixo das cobertas. Ainda falo gesticulando com as mãos e gosto de brincar de lutinha todos os domingos de manhã. E, claro, ainda pareço uma criança quando fico doente.

Eu que sempre fui poeta da minha própria vida, espero sempre guarda-te na estante dos meus melhores feitos. E, que ao final desse texto, você sorria. Sem medo de eu estar te vendo. Só sorria com simples objetivo de saber que os nossos momentos serão sempre nossos. A gente foi um sonho que passou, mas seremos sempre uma lembrança-sorriso dentro dos nossos, um dia juntos, corações.

. Frederico Elboni